Há cinco anos, a 7 de Janeiro de 2015, fomos todos Charlie. A sociedade ocidental insurgiu-se em massa contra a intolerância do fundamentalismo islâmico, que tentou silenciar a liberdade de expressão do histórico Charlie Hebdo, e fez ouvir a sua voz.
Cinco anos depois, na véspera de Natal, a sede da Porta dos Fundos é atacada com cocktails molotov, num atentado perpetrado por uma organização terrorista de extrema-direita, que, tal como os seus homólogos islâmicos, justifica os seus actos com a defesa de valores religiosos, ironicamente num dos dias mais importantes e sagrados para o cristianismo.
Estes terroristas, ultraconservadores como os seus pares da Al-qaeda e do Daesh, organizados num gangue que dá pelo nome de Comando de Insurgência Popular Nacionalista, da Grande Família Integralista Brasileira, são apenas mais um bando de grunhos, ideologicamente alimentados pelo autoritarismo fanático de Jair Bolsonaro, qual ayatollah, que não se cansa de instigar o ódio e de promover a violência contra quem não alinha pelo mesmo diapasão do fascismo evangélico.
Importa recordar que esta é a mesma extrema-direita que se apresenta como paladina da luta contra o politicamente correcto. A tal que passa a vida a falar numa censura que não existe, quando o seu objectivo único é silenciar quem não alinha na narrativa fascista dos Bolsonaros e dos Breitbarts, e que decidiu sair do armário para vomitar o seu ódio contra a democracia. A extrema-direita que quer ser livre para insultar os alvos do seu ódio primitivo, como as feministas ou a comunidade LGBTI, mas que não admite uma sátira inócua que vise os seus ídolos religiosos. Ou até admite, já que, no último Natal, a mesma Porta dos Fundos retratou Jesus como um party animal devasso, e nem por isso os terroristas saíram à rua com cocktails molotov. Porque a alegada luta contra o politicamente correcto, no Brasil como em Portugal, não passa de uma farsa, engendrada para servir os interesses daqueles que pretendem abater a democracia. Ou do que resta dela.
Para quem achava que Haddad era um perigo para a sociedade brasileira, e que Bolsonaro seria um mal menor, talvez seja hora de encarar os factos. O Brasil caminha, a passos largos, para se transformar numa Arábia Saudita ou num Irão, dominado por fascistas e fanáticos evangélicos. E aqui, meus caros, não existe meio termo: ou estamos com a democracia, ou estamos com os terroristas.